Entre os principais desafios que enfrentamos como seres humanos, está a forma de nos unir em torno de uma causa comum, e então trabalhar juntos para atingir esse objetivo. Esse é o principal desafio com o qual eu me deparo diariamente como CEO do Unreasonable Institute.
Por mais que esse seja um desafio que eu estou longe de solucionar, escrevi este artigo como uma reflexão sobre as práticas que observei terem mais sucesso para estimular as pessoas a se engajarem.
- Defina claramente como seria um mundo em que você é bem-sucedido
Estou extasiado de testemunhar que há um Movimento Occupy ciente dos problemas sociais atualmente e que é corajoso o suficiente para tomar partido contra eles (mesmo que isso signifique levar spray de pimenta no rosto). No entanto, na minha opinião, o Movimento Occupy perdeu o fôlego porque, ainda que tenha identificado um abismo entre o 1% mais rico e os outros 99%, ele não definiu quais são seus objetivos. Como seria o mundo se o Occupy fosse bem-sucedido?
Uma de suas declarações famosas dizia: “Eu sonho que um dia esta nação se insurgirá e viverá o verdadeiro significado de sua crença sobre todos os homens serem criados como iguais. […] Eu sonho que um dia meus quatro pequenos filhos viverão em uma nação onde eles não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de sua personalidade. […]. Eu sonho que um dia […] pequenos meninos e meninas negras poderão dar as mãos a meninos e meninas brancas como irmãos e irmãs”. Ele desenhou imagens tão concretas, que as pessoas sabiam exatamente em função de que elas lutavam, mesmo quando ele não mais estava por perto para oferecer uma direção ao movimento.
- Converse com uma pessoa, então converse com outra
Definir o que é sucesso, no entanto, não é suficiente. As pessoas não vão reunir a coragem para tomar alguma atitude sem confiar nas pessoas por trás do movimento.
Como atingir essa confiança é melhor explicado por meio de uma história sobre o famoso ativista por direitos civis, Cesar Chavez. Três jovens organizadores dirigiram pela Califórnia e passaram por fazendas nas quais Cesar estava trabalhando naquela época, para aprender com ele. Eles perguntaram a ele uma questão simples: “como você organiza tudo?” Ele respondeu que “primeiramente, você conversa com uma pessoa, depois com outra, e depois com outra”. “Sim”, os alunos responderam. “Mas como você organiza tudo?” Ele repetiu sua resposta. “Primeiro você conversa com uma pessoa, depois com outra, e depois com outra”.
Em outras palavras, quando você está começando um movimento, tudo que você tem é si próprio. E para que seus primeiros seguidores confiem em seu movimento, eles precisam confiar em você. Você não consegue construir essa confiança sem sentar-se com uma pessoa de cada vez.
Levamos essa mensagem à sério no Unreasonable Institute. As pessoas normalmente nos perguntam como construímos mais de 180 parcerias, ou fundamos nossos mentores (que incluem pessoas como John Elstrott, membro do conselho administrativo da Whole Foods; Lisa Waits, chefe de desenvolvimento comercial na Nokia; Neal Baer, ex-produtor executivo do programa Law & Order: SVU e ER). A resposta é simples: para nossos primeiros 15 meses de trabalho, focamos em apenas uma coisa: centenas de conversas cara-a-cara todo mês, com qualquer pessoa que conversasse com a gente. E nós pedimos a cada uma dessas pessoas que se reuniram com a gente para nos apresentar a outras cinco pessoas.
Moral da história: esteja preparado para que conversas individuais se tornem seu trabalho em tempo integral por um período.
- Receba seus primeiros seguidores como iguais
Depois de articular onde você pretende estar e de comunicar essa mensagem em conversas individuais, você começa a encontrar algumas almas corajosas o suficiente para te seguir. Como você engaja esses primeiros seguidores é imperativo para que seu movimento cresça. E a fala abaixo, de Derek Silvers, chamada “Como começar um movimento”, explica exatamente como fazer isso.
Derek explica que “um líder tem que ter coragem para se destacar e fazer papel de bobo” para começar algo. E, realmente, o líder parece ridículo até que mais uma pessoa apareça.
A mensagem de Derek é a que “lideranças são glorificadas em excesso”. Para que um movimento deslanche, ele tem que ser claro em relação ao fato de que a liderança recebe seus seguidores como iguais. Isso significa que a visibilidade do movimento deve incluir os seguidores, e não apenas o futuro líder.
O que isso quer dizer é que o movimento não pertence ao líder simplesmente. Ele pertence a todos aqueles que se juntaram ao movimento.
- Almeje os centros focais e dê a eles ferramentas para espalhar sua mensagem
Na preparação do piloto do Unreasonable Institute, que Daniel dirigiu no verão de 2008, ele chegou a mandar e-mails para 3.000 candidatos em potencial. Apenas um o respondeu.
Não tínhamos um histórico naquela época, e por isso ninguém confiava na mensagem que ouvia de nós. É por isso que é imperativo começar sua mobilização pensando sobre quem são as pessoas em quem seus candidatos já confiam. Eles podem ser pessoas em organizações, mas seu público-alvo confia neles. Se você conseguir que eles te ajudem a espalhar sua mensagem, você receberá uma recepção bem mais calorosa do que a nossa.
Para o Unreasonable Institute, esses centros focais foram nossos parceiros de notícias, que representam redes de milhares de empreendedores ao redor do mundo. São organizações como Echoing Green, TED Fellows, Ashoka Changemakers, competições universitárias de negócios empresariais e faculdades de administração de empresas. Nós pedimos a eles que avisassem os empreendedores em suas redes sobre a oportunidade de se inscrever no Unreasonable Institute e, em troca, faríamos o mesmo para seus programas.
Em um esforço para tornas as coisas mais fáceis, nós enviamos a eles um conjunto de materiais de marketing, que eles poderiam copiar e colar em e-mails, tweets, posts no Facebook e em blogs. Graças a esses parceiros divulgando esses materiais, recebemos mais de 1.000 candidaturas de empreendedores em mais de 80 países ao redor do mundo, nos últimos 3 anos.
- Eleve as pessoas ao fazer algo inacreditável
Nesse primeiro esforço para mobilizar a Índia a desafiar a Grã-Bretanha em 1930, Mahatma Gandhi liderou a legendaria Marcha do Sal. Naquela época, uma lei britânica criminalizava a produção de sal na Índia, exceto pelos britânicos. Isso permitia que eles impusessem impostos absurdos nesse produto.
Em protesto à lei, Gandhi andou por 23 dias, de seu ashram em Ahmedabad, até o litoral, a 240 milhas de distância. Lá, ele tomou nas mãos um punhado de água enlameada e declarou: “Com isso, eu estou estremecendo as fundações do Império Britânico”. Ele ferveu a água para produzir sal ilegal, provocando sua prisão pelos britânicos, bem como das 80.000 pessoas que protestavam com ele.
O ato incendiou outros protestos e atos de desobediência civil por milhões de pessoas pela Índia, foi documentado na imprensa ao redor do mundo, incluindo duas histórias de capa no New York Times, e ainda garantiu a Gandhi a distinção como a pessoa do ano pela revista Time.
Daniel Epstein fez uma viagem parecida para lançar a Unreasonable Adventures, no verão de 2009. Ele e seus sócios Will Butler e Elliott Bates levaram suas bicicletas do Canadá até o México, visitando parceiros em potencial pelo caminho.
O principal objetivo dessas, como posso dizer, ações insensatas não é que elas sejam retratadas pela mídia. Essa visibilidade é necessária, mas é ainda mais importante que haja convicção nesse ato “impossível” para inspirar as pessoas acreditarem em si próprias. Isso faz com que as pessoas pensem que são capazes de mais do que eles acreditavam ser possível. E essa convicção dá a eles a coragem para fazerem parte de algo maior que eles mesmos, ainda que isso seja difícil.
Fonte: Endeavor Brasil