Dar apoio aos colegas de trabalho é uma boa prática para alcançar o sucesso, desde que sejam observados três fatores essenciais: quem, como e quando.
Dentre os variados estudos que tratam do tema “o que faz alguém de sucesso ter sucesso”, há diversas referências a conceitos como trabalho duro, profundidade de conhecimento, paixão pelo que faz, entre outras características. Estes são, certamente, elementos indispensáveis para uma carreira bem-sucedida. Em adição a estas linhas de pensamento, o psicólogo organizacional Adam Grant, em seu livro Give and Take (Dar e Receber), optou por explorar um outro elemento bastante importante, porém ainda pouco abordado pelos best-sellers de negócios até então: a forma como nos relacionamos com as pessoas.
Para se ter uma ideia de como referências sobre o assunto ainda são bastante escassas, um dos poucos livros amplamente conhecidos a respeito do tema, embora sob uma ótica um pouco diferente, é de 1936 – o histórico How To Win Friends And Influence People (Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas), lançado por Dale Carnegie.
Em seus estudos conduzidos em Wharton – prestigiada escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos –, Grant identificou três tipos de perfis apresentados pelas pessoas em suas relações interpessoais no trabalho, algo que ele chamou de estilos de reciprocidade.
Aqueles que se encaixam no primeiro perfil são os chamados tomadores (takers). Fazem parte deste grupo os profissionais que passam a maior parte do seu tempo tentando extrair valor de suas relações, sem necessariamente oferecer algo em troca. Aqueles que apresentam um estilo oposto são os doadores (givers), que estão acostumados a ajudar ao próximo sem esperar nada em troca por tal ato. Em suas relações, eles se aproximam do próximo pensando: “Como posso ajudá-lo?”. Já no meio do caminho, encontram-se os compensadores (matchers), que procuram balancear as interações com as pessoas na base da troca. Só ajudam se forem ajudados, e costumam fazer as contas para checar se estão devendo algo a alguém ou se possuem crédito em cada relação.
Após classificar o estilo de reciprocidade de cada indivíduo avaliado em seus estudos, Adam Grant partiu então para identificar qual dos três perfis se mostrava em maior vantagem no ambiente de trabalho. Foi então que notou algo curioso: os mais bem-sucedidos eram aqueles que possuíam uma essência doadora. Uma vez que eles se preocupavam não só com si mesmos, mas com o todo, seus times e empresas cresciam mais, e eles também passavam a obter uma ajuda maior ao longo do processo, uma vez que eram vistos como pessoas que, acima de tudo, queriam o bem do próximo.
Contudo, no lado oposto da pirâmide, Grant detectou que as pessoas menos bem-sucedidas no trabalho, para seu espanto, eram também doadoras. Atentas a sempre ajudar os demais, acabavam não se preocupando com o próprio resultado, terminando na lanterninha da escala do sucesso. O que então diferencia os doadores bem-sucedidos dos malsucedidos? As características básicas estão diretamente relacionadas a “quem”, “como” e “quando” se oferece ajuda.
Os doadores com dificuldades de ascender na carreira não fazem distinção entre quem será ajudado, e acabam ajudando também tomadores que irão tirar vantagem deles. Já o perfil oposto de doador é mais cauteloso e busca analisar se as pessoas que irão apoiar não são egoístas ou estão apenas querendo tirar vantagem, protegendo-se deste tipo de profissional.
Em relação à maneira como oferecem suporte, doadores que alcançaram o sucesso geralmente são mais especialistas do que os malsucedidos, que possuem um perfil generalista. Desta forma, a ajuda dada pelos bem-sucedidos costuma ser mais certeira e aprofundada, fazendo uma diferença maior na vida de quem recebe o apoio, construindo assim uma melhor reputação e passando a ser vistos como experts em determinado assunto. Na contramão, os doadores malsucedidos acabam ajudando em tudo um pouco, entregando resultados considerados menos relevantes. Passam, assim, a ser reconhecidos apenas como pessoas legais e com tempo disponível para “dar uma mãozinha”.
Já a última distinção está relacionada a quando a ajuda é concedida. Doadores malsucedidos estão dispostos a ajudar os outros o tempo todo, muitas vezes em detrimento de suas próprias prioridades. Acabam, assim, não atingindo seus objetivos e não crescem o tanto que poderiam, uma vez que não focam em si mesmos em nenhum momento. Já os bem-sucedidos, por sua vez, são mais diligentes em relação a quando doar-se. Eles costumam organizar bem suas agendas para balancear o tempo que irão dedicar a cumprir suas próprias tarefas e, assim, entregar mais resultados; em paralelo, reservam momentos à parte para estarem disponíveis para auxiliar os demais em suas entregas.
A boa notícia é que, sabendo a distinção entre os diferentes estilos, você pode treinar a si mesmo para, primeiro, doar-se nas relações interpessoais e, segundo, a adotar as características do estilo bem-sucedido dos doadores, e não as dos malsucedidos. Ou seja, além de encontrar um trabalho alinhado com seus objetivos de vida, buscar sempre aprofundar seu conhecimento e estar disposto a trabalhar duro, fazer bem ao próximo e dedicar tempo para ajudar as pessoas ao seu redor também são prioridades na construção de uma carreira ascendente. Isso contribuirá não só com o seu sucesso, mas também com o desenvolvimento de todos aqueles no seu ambiente de trabalho – e no crescimento da própria organização.
Fonte: Época Negócios
Por: Tiago Mitraud* , diretor executivo da Fundação Estudar, uma organização sem fins lucrativos que, desde 1991. Apoia os estudos e a carreira de universitários e recém-formados de todo o Brasil, oferecendo a jovens talentos bolsas de estudo, cursos presenciais e portais de conteúdo
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